ComCiência No. 104 - 10/12/2008
Tradução: Germana Barata e Rodrigo Cunha
Que comédia impagável tem se desdobrado nas conversas de nível
internacional no presente! Eu estou, é claro, falando sobre a crise financeira
em curso. Durante a noite, a idéia missionária do Ocidente, a
economia de livre mercado, que justificou nosso aborrecimento em relação
ao comunismo, assim como nossa lacuna filosófica sobre o sistema chinês
atual, desmoraram. Com o fanatismo dos convertidos, banqueiros – agora
"banksters" uma fusão de banqueiro com ganster aos olhos do
público – estão exigindo a intervenção do Estado
para cobrir suas perdas. Então, será que a forma estatal chinesa
de gerir como a indústria privada, até aqui ridicularizada, maldita
e temida, também começa a encontrar seu caminho nos centros anglo-saxões
do capitalismo laissez-faire? Como podemos explicar esse poder revolucionário
de riscos financeiros globais?
Nesta conferência quero investigar a ironia do risco. O risco é
ambivalência. Estar em risco é a maneira de ser e de governar no
mundo da modernidade; estar em risco global é a condição
humana no início do século XXI. Mas, contra a natureza do sentimento
de desgraça atualmente difundido, gostaria de perguntar: qual artifício
da história é igualmente inerente à sociedade de risco
e emerge com sua realização? Ou, formulando de maneira mais firme:
há uma função iluminadora, um “momento cosmopolita
da sociedade de risco mundial? Assim, quais são as oportunidades da mudança
climática e da crise financeira, e que formato elas tem?
Há uma nostalgia incorporada nas fundações do pensamento
sociológico europeu, que nunca desapareceu. Talvez, paradoxalmente, essa
nostalgia pode ser superada com a teoria da sociedade de risco mundial. Meu
objetivo é uma teoria nova, não nostálgica, crítica,
para olharmos para o passado e futuro da modernidade. Em meu argumento quero
manter as duas visões contraditórias da modernidade – auto-destruição
e a capacidade de recomeçar – em equilíbrio uma com a outra.
Gostaria de demonstrar isso em três etapas (contando com resultados de
pesquisa empírica do Munich Research Centre "Reflexive Modernization"
Centro de Pesquisa “Modernização Reflexiva" de Munique):
1. Velhos perigos – novos riscos: o que há de novo sobre a sociedade
de risco?
2. “Momento cosmopolita": o que isso significa?
3. Conseqüências: há necessidade de uma mudança de
paradigma nas ciências sociais?*
1. Perigos antigos – novos riscos: o que há de novo sobre sociedade
de risco?
A sociedade moderna se tornou uma sociedade de risco à medida que se
ocupa, cada vez mais, em debater, prevenir e administrar os riscos que ela mesma
produziu. Isso pode ocorrer, muitos objetarão, mas é indicativo
de uma histeria e de uma política do medo incitadas e agravadas pelos
meios de comunicação de massa. Ao contrário, alguém
que olha sociedades européias, estando de fora, não teria que
reconhecer que os riscos que nos acometem são riscos luxuosos, mais do
que qualquer outra coisa? Apesar de tudo, nosso mundo parece muito mais seguro
do que aquele, por exemplo, das regiões da África, do Afeganistão
ou do Oriente Médio dilaceradas pela guerra. As sociedades modernas não
são distinguidas exatamente pelo fato de serem, em grande medida, bem
sucedidas em manter contingências e incertezas sob controle, por exemplo
no que diz respeito aos acidentes, à violência e à doença?
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29 de enero de 2009 |